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“Maria faleceu e não poderá assistir ao Epidemia. Quando eu mostrei pra ela o trecho no qual aparecia em uma primeira versão do filme, estava preocupada com o café que estavam servindo e mostrava-me que estava sem pulseira. Tive receio que ela não estivesse gostando de sua imagem. Maria, que era muda, juntou as mãos como se estivesse rezando. Estranhei o gesto, mas logo uma mão afastou-se da outra e ela começou a aplaudir e sorrir, apontando ao documentário”.  

Relato do diretor Mário Eugênio Saretta. 

"Mas esse vídeo, mais pessoas vão ver, né!? As pessoas da rua?" perguntou João. Ele queria que mais pessoas conhecessem sua experiência de quando passou internado por doze anos no Hospital Psiquiátrico São Pedro na década de 1960, em uma época que havia ali aproximadamente 5.000 internos. Falou sobre injeções e eletrochoques e que muita gente ainda não acreditaria no que aconteceu por lá. Depois de décadas, João havia voltado a frequentar o hospital psiquiátrico, mas apenas para ir à Oficina de Criatividade, onde realizava pinturas e esculturas em argila. Infelizmente, ele faleceu durante as gravações do filme, mas seu depoimento vai poder ser ouvido pelas ‘pessoas da rua’.

 

“Fica um pouco de tinta em quem passa pela Oficina: nas mãos, na roupa, no chão. Quando mostramos para Clemente os trechos que ele aparecia no documentário, ele gritou: Bonito! O pincel que estava em sua mão pintou o teclado do  notebook – o que fez jus ao título Epidemia de Cores”.

“Sueli estava no pátio e perguntei se ela queria participar do documentário, explicando o que era. Ela me respondeu com delicadeza:


– Me desculpe ser mal educada com o senhor,

mas eu estou fazendo tricô e é tão bom a gente fazer uma coisa que sabe, o senhor me convide outro dia que talvez eu concorde com o senhor em participar.


Outro dia, quando fui refazer uma filmagem, a encontrei na Oficina e ela quis participar. Sentou-se no sofá, declamou versos, cantou uma música e pediu para tirar uma foto, para depois revelá-la ampliada para colocar na parede. Não houve tempo de inclui-la no filme, mas um pequeno trecho ficou como Extra, no qual ela sugere que psicóloga é a ‘enfermeira da alma e da vida’”, conta o diretor Mário Eugênio Saretta.

 

Acerto de contas!  Guilherme adora fazer contas e jogar jogo da velha. Ao assistir o filme, apontava para cada participante que via na tela e que estava por perto na Oficina de Criatividade. Epidemia de Cores conta um pouco sobre o que não tem medida, nem nunca terá: porque há muito mais do que números para se conhecer.

É como diz um trecho de O Pequeno Príncipe:   "As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: 'Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?' Mas perguntam: 'Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?' Somente então é que elas julgam conhecê-lo".

Guache sobre papel. Obras do ano de 2012. 
Todas as obras são pertencentes ao Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. 

Acrílica sobre tela. Todas as obras são pertencentes ao Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. 

       Nesta sessão, o diretor conta histórias do período de gravação do filme e exibe fotos e a digitalização de obras de alguns dos participantes do documentário Epidemia de Cores, os quais, em sua maioria, são ainda moradores do hospital psiquiátrico. O documentário  também conta com participantes da comunidade em geral que vão à Oficina de Criatividade devido ao interesse nas atividades expressivas oferecidas, tais como  pintura, bordado e produção textual. 
      

Guache e giz de cera sobre papel. Obras pertencentes ao Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Lessa riu muito e alto ao se ver numa primeira versão do filme. Questionada pelo diretor se gostaria de alguma modificação, como a retirada de algum trecho, ela disse: "Não precisa mexer em nada, pode deixar tudo como está!". Ela se surpreendeu ao ver um dos participantes do documentário, comentando que fazia tempo que ele já não estava morando mais ali naquele hospital.

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Lessa faleceu uma semana antes da estreia de Epidemia de Cores no cinema. 

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Guache sobre papel. 
Todas as obras são pertencentes ao Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. 

Natália é uma participante ativa da Oficina de Criatividade. Suas obras já participaram de muitas exposições, dentre elas, a "Eu Sou Você", realizada pelo Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Guache e giz de cera sobre papel. Obras pertencentes ao Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Financiamento:
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